Em 1741 o pastor puritano Jonathan Edwards, pregou o que agora é um sermão histórico, pecadores nas mãos de um deus enfurecido. Ele usou a palavra raiva 3 vezes, enraivecido 6 vezes, feroz 17 vezes e fúria 51 vezes.
Leia algumas de suas palavras:
‘Homens perversos agora são objetos da raiva e fúria de Deus que é expressado nos tormentos do inferno. Na verdade Deus está muito mais nervoso, com os grandes números que agora estão na terra.
Sem, sem dúvida muito mais com aqueles que estão agora nessa congregação, que talvez esteja a vontade, do que Ele está com os muitos outros que estão agora nas chamas do inferno.’
Edward queria claramente argumentar sobre os sentimentos de Deus. Hoje, poucos pastores americanos, ousariam pregar um sermão cruel como esse.
Fred (Deus odeia as Bichas) Phelps de Topeka, Kansas, conseguiu ganhar atenção da mídia americana com sua teologia do ódio. Em parte porque ele é diferente dos demais cristãos.
Os sermões mais populares hoje em dia, focam mais em promessas do que ameaças. Os sermões de Pastor Oral Roberts prometiam entre outras coisas que a devoção ao seu tipo de cristianismo, do qual seria recompensando com riqueza material. E assim ele se tornou o fundador de uma escola de teologia agora conhecida como ‘Evangelho da Prosperidade’.
Se você procurar na internet, você vai encontrar todo tipo de cristão argumentando que, que deus não está com raiva, feroz ou zangado. Só justo e se atém as obrigações da justiça! E aflito! Isso dói mais em mim do que vai doer em você.
Mas, se formos honestos, Edwards estava mais próximo da visão de muitos dos autores da Bíblia do que estava Roberts. Ou os pastores da televisão, como Rick arren ou Joel Osteen.
Considere esses versículos:
Isaías 63:3 - ‘Eu ameaçarei com minha irá; e os pisotearei na minha raiva, e o seu sangue será salpicado nas minhas vestes, e mancharei toda a minha vestimenta.’
Ezequiel 8:18 – ‘Por isso também, eu os tratarei com furor, o meu olho não poupará, nem terei piedade, ainda que gritem aos meus ouvidos com grande voz, contudo não os ouvirei.’
Romanos 9:22 – ‘E que direis se Deus, querendo mostrar sua irá, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição.’
Apocalipse 19:15 – ‘E da sua boca saia uma aguda espada, para ferir com ela as nações e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o largar do vinho do furor da irá do Deus Todo Poderoso.’
Os primeiros dois versos são dos profetas e o último do livro do apocalipse. A Irá de Deus está espalhada por toda a Bíblia Sagrada.
Raiva, como já discutimos funciona como um emoção ativadora. É uma resposta a dor e a ameaça ou simplesmente um perigo. Quando estamos em perigo, ou as nossas metas são frustradas, a raiva pode nos deixar mais focado, persistente e determinados.
Socialmente ela serve para preparar nossos corpos para uma ação defensiva, nos fazendo mais fortes, mais alertas, mais agressivos e consequentemente, mais intimidadores. Ela pode ser quase instantaneamente, preparando nossas respostas para as ameaças, mais rápido do que a nossa mente consciente pode até mesmo acessar a situação. Essa é a vantagem e a desvantagem da raiva.
Você pode pensar que se alguém é suficientemente poderoso, digamos por exemplo, onipotente, então a raiva seria desnecessária.
A força que criou o universo, não deveria ter necessidade disso! Para que? Para torna-lo mais poderoso¿ Mais capaz de se concentrar? Para quebrar as inibições ou medo?
Mesmo assim, ainda faz muito sentido que nós humanos pensemos que um deus personificado fique com raiva. Nós esperamos que todas as pessoas poderosas fiquem com raiva.
Considere os autores da Bíblia, eles estão falando da pessoa mais poderosa imaginável que foi moldado em um líder da Idade de Ferro ou Rei que tinha poder absoluto sobre seus súditos que estava além da obrigação de prestar contas.
Um exemplo é o da situação de Jó, que virou um joguete entre uma competição entre Yaweh e Satã. Como um teste de sua lealdade a Yaweh, seus filhos, junto com seus outros ativos como amizade, riqueza e saúde, são retirados dele. Quando ele reclama, Deus se sente um pouco ofendido:
‘um pecador questionando o Todo Poderoso¿’
O poder absoluto permite as extravagâncias e crueldade, ele sempre é mantido em parte pelo medo. Um nível de medo que é virtualmente impossível de se perpetuar sem a imprevisibilidade da raiva.
Saddam Husseinpoder ser imaginado como um ditador moderno da idade do ferro, mantendo coesa uma nação feita de facções tribais e grupos familiares que estão prontos a se dissolver em agrupamentos mais primitivos.
A Brutalidade e crueldade de Hussein, nos dá uma ideia do que é necessário para se manter a autoridade absoluta em um ambiente como esse.
Se você lê as descrições dos reis israelenses, mesmo muitos dos favoritos de Deus, você vai notar que o regime deles era semelhante ao de Saddam Hussein. Eles praticavam genocídio e ateavam fogo nas invasões, eles tinham escravas sexuais tomadas a força, eles envolviam em todo o tipo de intriga palaciana, eles matavam os rivais e tomavam suas riquezas e frequentemente clamavam sansão divina para suas piores atrocidades:
‘Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até a mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até as ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos’ . I Samuel 15:3.
O consentimento dos governados nem é considerado.
Em um contexto como o Iraque moderno ou do antigo oriente médio, onde disputas são resolvidas recorrendo a policia ou a lei, causar o pavor é um ATIVO SOCIAL.
Um homem pode matar sua mulher adultera porque pelo menos em parte, porque ao fazer isso, aumenta seu status entre os homens. Iniciar uma violência visível o põe em uma posição mais poderosa, quando mais tarde ele tem que definir uma disputa territorial ou negociar um contrato.
A raiva torna as pessoas mais temidas, em parte porque ela parece mais fora de nosso controle. Um Rei ou Deus que é conhecido por seus exageros demanda a total ATENÇÃO dos seus SÚDITOS.
Nós não decidimos muitas das nossas disputas pela força ou mesmo força de vontade e a evolução das teologias refletem as nossas mutantes condições culturais atuais. O Deus raivoso de Jonathan Edwards foi substituído em parte por um Deus que tem um plano maravilhoso para sua vida ou que busca uma relação pessoal com você.
Da mesma forma, uma pesquisa recente dos cientistas cognitivos (Aaron Sell, Leda Cosmides, John Tooby) sugerem que talvez haja uma base biológica para nossa expectativa de que um Deus seja dado a raiva.
Nós frequentemente pensamos na raiva como sendo algo de pessoas frustradas com sua impotência, mas o contrário pode ser verdade.
Uma das maneiras que a raiva funciona é como uma tática de barganha. Como eu disse ela aumenta o pavor dos outros, consequentemente quando eu fico zangada, você presta atenção aos meus desejos e menos atenção aos seus próprios. Mas isso somente funciona se você ficar próximo. A maioria de nós parece não gostar de ficar por aí com raiva, não gostamos de nos sentir como se estivéssemos ‘pisando em ovos’. Então em geral tentamos evitar aqueles que são cronicamente irritados, em particular se sua raiva é imprevisível ou perigosa.
Mas a equação muda se a pessoa com raiva é poderosa. Pessoas poderosas são aqueles que podem nos prejudicar se não prestarmos atenção a seus desejos ou que se pode conseguir benefícios quando o fazemos. Eles podem nos rejeitar, machucar ou até matar. Ou talvez, eles possam nos dar privilégios especiais como riqueza ou favores sexuais.
Com pessoas poderosas nós queremos evitar a sua raiva, enquanto ficamos conectados. Então quando descobrimos o que os deixam nervosos, nós tendemos a ser mais complacentes.
No estudo do cientista Sell, Tooby e Cosmides, homens fortes e mulheres mais bonitas tem uma maior tendência a se irritar do que seus contrapartes mais feias ou fracas. Os pesquisadores teorizam que esse tipo de pessoa, no nosso ambiente ancestral, podem ter infligido violência ou oferecido benefícios reprodutivos extras. Tendo maiores habilidades para ameaçar ou mais para oferecer, cria um senso de direito que quando violado produz raiva.
É uma maneira com a qual as pessoas de alto status conseguem fazer o resto de nós lhes dermos o que eles querem. E porque nós valorizamos ou os tememos eles se livram disso.
Quem é mais poderoso que Deus? Quem é mais capaz de prejudicar os outros? Ou conseguir benefícios?
Pode ser que sejamos biologicamente predispostos a ansiedade da ira divina, mas o fato que estejamos dispostos a esperar algo não o torna real.
As nossas mentes estão otimizadas para nos ajudar a antecipar e adaptar aos desejos e sentimentos de outros humanos, incluindo humanos com alta posição social, que tem o poder para deixar nossas vidas melhores ou piores. É fácil demais pegarmos o mesmo modelo e projeta-lo no universo e além.
Os autores da Bíblia acreditavam em um deus furioso, talvez um artefato da evolução social e processamento de informação. Quando nós falamos de Deus, a maioria está tentando vislumbrar uma realidade que é externa a nós, não estamos tentando aprender algo sobre a arquitetura de nossas próprias mentes, nós queremos saber: ‘Somos pecadores na mão de um deus com raiva¿’, ‘Não pecadores na mão de humanos com raiva?’
E ainda assim, é só por nos vermos que temos uma chance de ver além de nós mesmos.
Valerie Tarico é uma psicológica e autora que vive em Seatle, Washington e autora de ‘Confiando na Dúvida’
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