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sexta-feira, 3 de abril de 2015

5 falácias lógicas que alimentam os sentimentos anticiência



Mais do que nunca, precisamos da ciência. Mesmo assim, ainda tem gente com dificuldade para obter informações sobre o método científico e as conquistas obtidas com ele. É incrível que dependamos tanto da ciência e que as pessoas tenham tão pouco conhecimento, ou o que é pior, tenham ideias erradas sobre ela.

Para tornar tudo mais difícil ainda, as ideias equivocadas que estas pessoas têm sobre ciência geralmente são reforçadas por falácias lógicas, ou erros na lógica dedutiva. Como se não bastasse tudo isto, ainda tem gente que se dedica a espalhar estes erros e falácias.

Veja aqui oito dos piores erros lógicos cometidos contra a ciência e o conhecimento científico.

1. Falsa equivalência

Oferecer uma visão equilibrada é importante, mas isto não significa que todas as perspectivas sobre um assunto devem receber o mesmo tempo ou consideração. Esta é a falácia da equivalência: a afirmação de que há uma equivalência lógica entre dois argumentos opostos, quando na verdade não há nenhuma.

Este erro geralmente é cometido por jornalistas tentam apresentar um debate “equilibrado” entre um ponto de vista científico e outro negador da ciência (como no “debate” evolucionista/criacionista entre Bill Nye e Ken Ham). O mais comum é que o lado dissidente não tem evidências, ou apresenta evidências fracas ou de qualidade dúbia. De fato, nem sempre os dois lados de uma discussão estão em pé de igualdade em termos de qualidade e evidência.

Como foi apresentado no blog The Skeptical Raptor, “basta olhar uma apresentação em qualquer das mídias sobre a mudança climática antropogênica. Há um debatedor, geralmente um cientista, que está tentando apresentar dados sutis, contra um outro debatedor fotogênico, possivelmente um cientista (mas de um campo totalmente sem relação com estudos climáticos) que usa falácias lógicas e dados manipulados para apresentar seu argumento. E o espectador pensa que a comunidade geral de cientistas também está dividida entre cada lado do ‘debate’. Entretanto, um debate equilibrado de verdade teria que ter 97 cientistas defendendo a mudança climática causada pelo homem contra 2 ou 3 contra. Um periódico bem respeitado, com fator de impacto bastante alto, o Proceedings of the National Academy of Science, analisou a ciência da mudança climática e determinou que entre 97 a 98% dos pesquisadores em ciência climática aderem à tese de que o ser humano influenciou a mudança climática”.

O The Skeptical Raptor acrescenta que os negadores da ciência tentam criar a falsa equivalência através de vários métodos, a maioria deles falácias por si próprias, incluindo a alegação que a ciência é uma democracia, o apelo à autoridade, conspirações e “manufatrovérsia” (a manufatura ou invenção de controvérsias).

2. Apelo à natureza e a falácia naturalista

O apelo à natureza e a falácia naturalista tem causado um tremendo dano aos cientistas e seu trabalho. O apelo à natureza é a crença de que o que é natural é “bom” e “correto”, e a falácia naturalista é a dedução de que o que é naturalmente de uma forma, tem que ser aceito como regra.

Os dois têm sido usados para argumentar que o progresso da ciência e tecnologia representa uma ameaça à ordem natural das coisas. É uma linha de pensamento que proclama as maravilhas inerentes das coisas naturais e deplora as coisas não naturais como sendo perigosas e não saudáveis.

Esta convicção se baseia em uma ideia absurda de que as conquistas tecnológicas e científicas da humanidade acontecem fora da natureza, e que nossa atividade no universo serve só para perverter o equilíbrio e fluxo natural das coisas. Este sentimento tem alimentado preocupações e proibições, como as pesquisas biológicas básicas, ao mesmo tempo contribuindo para o surgimento de ideias pseudocientíficas como o Darwinismo Social.

O filósofo George E. Moore argumentou que é um erro tentar definir o conceito de “bom” em termos de alguma propriedade natural. David Hume apontou que há um salto entre “é” e “deve”. Mais ainda, é errado distanciar a humanidade e suas atividades de outros aspectos do universo. Nós estamos trabalhando dentro dele e de acordo com suas leis, nunca em violação delas. O que fazemos e o que produzimos é tão natural quanto todo o resto.

3. Observação seletiva

Muitos dos críticos da ciência, deliberada ou inconscientemente, selecionam e compartilham informações que servem para atacar certas alegações da ciência, ao mesmo tempo que ignoram as informações que dão base àquelas alegações.

Um exemplo que todo mundo já deve ter ouvido: “Meu avô fumou e comeu churrasco a vida toda, e nunca ficou doente” (e aí já temos outra falácia, a estatística com números pequenos). Ou então quem aponta circunstâncias favoráveis ao mesmo tempo que ignora as desfavoráveis (e vice-versa), como informar todos os vencedores de um cassino ao mesmo tempo ignorando os perdedores, ou reclamar que o crime está aumentando após ver o noticiário, mas ignorar estatísticas que apontam taxas decrescentes.

É o famoso caso da “evidência anedótica”: alguém tem uma história que supostamente contradiz alguma afirmação científica e de uma hora para outra aquele caso único tem mais peso que todos os trabalhos científicos na área.

4. Apelo à fé

“Não me interessam evidências – eu tenho fé que o que eu acredito é verdade”.

“Discutir sobre Deus é inútil por que Deus está além das razões científicas ou argumentos”.

“Eu me recuso acreditar em toda estas coisas de aquecimento global. Tenho fé que Deus não vai deixar uma coisa assim ruim acontecer conosco”.

Se você já ouviu alguma coisa parecida, você já ouviu o apelo à fé, uma falácia em que as convicções religiosas são contrapostas a razões e evidências. Apesar de muitas destas pessoas acharem que estão agindo de forma racional, a verdade é que a escolha em acreditar em alguma coisa não é substituto para a ciência.

Como o filósofo George M. Felis aponta, apelar para a fé não é só um erro lógico, mas também uma falha moral: “A razão para isto ser tão importante não é simplesmente que as pessoas que abraçam uma fé terão crenças mal-formadas. A razão não é normativa apenas no sentido mínimo que existem estruturas dentro das quais ela deve operar ou ela não é mais razão. Existe um componente ético na razão também, por que as crenças de alguém estão intimamente conectadas com as ações desta pessoa. Algumas destas crenças são por si normativas – crenças sobre o que é bom e correto sobre por que a vida é valiosa e por que e de que forma (veja os debates sobre aborto e eutanásia). E as crenças factuais também são importantes, uma vez que a forma que compreendemos o mundo em que agimos dão forma a cada ação nossa tanto quanto nossos valores e objetivos.

Se alguém desiste da razão na formação de suas crenças, também desiste da única forma de acesso à verdade que temos. Os humanos não têm uma capacidade de perceber e discernir imediatamente o que é verdade, da mesma forma que conseguimos discernir cores e formas (se contarmos com boa iluminação e boa visão). O mais perto que podemos chegar da verdade é justificar as nossas crenças. A fé declara que algumas crenças – as mais importantes, no centro de nossos mundos, que determinam como vemos outras coisas – não precisam ser justificadas”.

Em resumo, você pode acreditar que pode voar, mas isto não vai te libertar da tirania da gravidade.

5. Deus das Lacunas

A ciência não tem todas as respostas, nem finge ter. Não sabemos ainda como funciona a consciência, não sabemos o que causou o Big Bang, e ainda há lacunas no nosso conhecimento sobre como certos traços emergiram via seleção natural. Mas isto não quer dizer que nunca venhamos a saber isso. Mas enquanto não temos estas respostas, é importante reunir evidências, criar hipóteses e assumir o paradigma naturalista (ou seja, todos os fenômenos podem ser explicados sem precisar apelar para as ações de uma força divina).

Infelizmente, entretanto, há uma tendência entre os que querem desacreditar a ciência de preencher estas lacunas de nosso conhecimento com explicações supernaturais e metafísicas. Por exemplo, os criacionistas alegam com frequência que a seleção natural não pode explicar adequadamente a diversidade, complexidade (irredutível ou não) e o aparente projeto da vida na Terra. Da mesma forma, fenômenos neurológicos com as experiências de quase-morte ou experiências alucinatórias como uma presença remota geralmente são explicadas com o sobrenatural quando explicações mais simples são mais prováveis e plausíveis.

O matemático Charles A. Coulson escreveu em 1955:”Não há um ‘Deus das lacunas’ para assumir aqueles pontos estratégicos onde a ciência falha, e a razão é por que as lacunas deste tipo tem o hábito de encolher”, acrescentando que “ou Deus está em toda a Natureza, sem lacunas, ou ele não está nela de forma alguma”.

Fonte hypescience.com
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