Mais do que nunca, precisamos da
ciência. Mesmo assim, ainda tem gente com dificuldade para obter informações
sobre o método científico e as conquistas obtidas com ele. É incrível que
dependamos tanto da ciência e que as pessoas tenham tão pouco conhecimento, ou
o que é pior, tenham ideias erradas sobre ela.
Para tornar tudo mais difícil
ainda, as ideias equivocadas que estas pessoas têm sobre ciência geralmente são
reforçadas por falácias lógicas, ou erros na lógica dedutiva. Como se não
bastasse tudo isto, ainda tem gente que se dedica a espalhar estes erros e
falácias.
Veja aqui oito dos piores erros
lógicos cometidos contra a ciência e o conhecimento científico.
1. Falsa equivalência
Oferecer uma visão equilibrada é
importante, mas isto não significa que todas as perspectivas sobre um assunto
devem receber o mesmo tempo ou consideração. Esta é a falácia da equivalência:
a afirmação de que há uma equivalência lógica entre dois argumentos opostos,
quando na verdade não há nenhuma.
Este erro geralmente é cometido
por jornalistas tentam apresentar um debate “equilibrado” entre um ponto de
vista científico e outro negador da ciência (como no “debate”
evolucionista/criacionista entre Bill Nye e Ken Ham). O mais comum é que o lado
dissidente não tem evidências, ou apresenta evidências fracas ou de qualidade
dúbia. De fato, nem sempre os dois lados de uma discussão estão em pé de
igualdade em termos de qualidade e evidência.
Como foi apresentado no blog The
Skeptical Raptor, “basta olhar uma apresentação em qualquer das mídias sobre a
mudança climática antropogênica. Há um debatedor, geralmente um cientista, que
está tentando apresentar dados sutis, contra um outro debatedor fotogênico, possivelmente
um cientista (mas de um campo totalmente sem relação com estudos climáticos)
que usa falácias lógicas e dados manipulados para apresentar seu argumento. E o
espectador pensa que a comunidade geral de cientistas também está dividida
entre cada lado do ‘debate’. Entretanto, um debate equilibrado de verdade teria
que ter 97 cientistas defendendo a mudança climática causada pelo homem contra
2 ou 3 contra. Um periódico bem respeitado, com fator de impacto bastante alto,
o Proceedings of the National Academy of Science, analisou a ciência da mudança
climática e determinou que entre 97 a 98% dos pesquisadores em ciência
climática aderem à tese de que o ser humano influenciou a mudança climática”.
O The Skeptical Raptor acrescenta
que os negadores da ciência tentam criar a falsa equivalência através de vários
métodos, a maioria deles falácias por si próprias, incluindo a alegação que a
ciência é uma democracia, o apelo à autoridade, conspirações e “manufatrovérsia”
(a manufatura ou invenção de controvérsias).
2. Apelo à natureza e a falácia
naturalista
O apelo à natureza e a falácia
naturalista tem causado um tremendo dano aos cientistas e seu trabalho. O apelo
à natureza é a crença de que o que é natural é “bom” e “correto”, e a falácia
naturalista é a dedução de que o que é naturalmente de uma forma, tem que ser
aceito como regra.
Os dois têm sido usados para
argumentar que o progresso da ciência e tecnologia representa uma ameaça à
ordem natural das coisas. É uma linha de pensamento que proclama as maravilhas
inerentes das coisas naturais e deplora as coisas não naturais como sendo
perigosas e não saudáveis.
Esta convicção se baseia em uma
ideia absurda de que as conquistas tecnológicas e científicas da humanidade
acontecem fora da natureza, e que nossa atividade no universo serve só para
perverter o equilíbrio e fluxo natural das coisas. Este sentimento tem
alimentado preocupações e proibições, como as pesquisas biológicas básicas, ao
mesmo tempo contribuindo para o surgimento de ideias pseudocientíficas como o
Darwinismo Social.
O filósofo George E. Moore
argumentou que é um erro tentar definir o conceito de “bom” em termos de alguma
propriedade natural. David Hume apontou que há um salto entre “é” e “deve”.
Mais ainda, é errado distanciar a humanidade e suas atividades de outros
aspectos do universo. Nós estamos trabalhando dentro dele e de acordo com suas
leis, nunca em violação delas. O que fazemos e o que produzimos é tão natural
quanto todo o resto.
3. Observação seletiva
Muitos dos críticos da ciência,
deliberada ou inconscientemente, selecionam e compartilham informações que
servem para atacar certas alegações da ciência, ao mesmo tempo que ignoram as
informações que dão base àquelas alegações.
Um exemplo que todo mundo já deve
ter ouvido: “Meu avô fumou e comeu churrasco a vida toda, e nunca ficou doente”
(e aí já temos outra falácia, a estatística com números pequenos). Ou então
quem aponta circunstâncias favoráveis ao mesmo tempo que ignora as
desfavoráveis (e vice-versa), como informar todos os vencedores de um cassino
ao mesmo tempo ignorando os perdedores, ou reclamar que o crime está aumentando
após ver o noticiário, mas ignorar estatísticas que apontam taxas decrescentes.
É o famoso caso da “evidência
anedótica”: alguém tem uma história que supostamente contradiz alguma afirmação
científica e de uma hora para outra aquele caso único tem mais peso que todos
os trabalhos científicos na área.
4. Apelo à fé
“Não me interessam evidências – eu
tenho fé que o que eu acredito é verdade”.
“Discutir sobre Deus é inútil por
que Deus está além das razões científicas ou argumentos”.
“Eu me recuso acreditar em toda
estas coisas de aquecimento global. Tenho fé que Deus não vai deixar uma coisa
assim ruim acontecer conosco”.
Se você já ouviu alguma coisa
parecida, você já ouviu o apelo à fé, uma falácia em que as convicções
religiosas são contrapostas a razões e evidências. Apesar de muitas destas
pessoas acharem que estão agindo de forma racional, a verdade é que a escolha
em acreditar em alguma coisa não é substituto para a ciência.
Como o filósofo George M. Felis
aponta, apelar para a fé não é só um erro lógico, mas também uma falha moral:
“A razão para isto ser tão importante não é simplesmente que as pessoas que
abraçam uma fé terão crenças mal-formadas. A razão não é normativa apenas no
sentido mínimo que existem estruturas dentro das quais ela deve operar ou ela
não é mais razão. Existe um componente ético na razão também, por que as
crenças de alguém estão intimamente conectadas com as ações desta pessoa.
Algumas destas crenças são por si normativas – crenças sobre o que é bom e
correto sobre por que a vida é valiosa e por que e de que forma (veja os
debates sobre aborto e eutanásia). E as crenças factuais também são
importantes, uma vez que a forma que compreendemos o mundo em que agimos dão
forma a cada ação nossa tanto quanto nossos valores e objetivos.
Se alguém desiste da razão na
formação de suas crenças, também desiste da única forma de acesso à verdade que
temos. Os humanos não têm uma capacidade de perceber e discernir imediatamente
o que é verdade, da mesma forma que conseguimos discernir cores e formas (se
contarmos com boa iluminação e boa visão). O mais perto que podemos chegar da
verdade é justificar as nossas crenças. A fé declara que algumas crenças – as
mais importantes, no centro de nossos mundos, que determinam como vemos outras
coisas – não precisam ser justificadas”.
Em resumo, você pode acreditar que
pode voar, mas isto não vai te libertar da tirania da gravidade.
5. Deus das Lacunas
A ciência não tem todas as
respostas, nem finge ter. Não sabemos ainda como funciona a consciência, não
sabemos o que causou o Big Bang, e ainda há lacunas no nosso conhecimento sobre
como certos traços emergiram via seleção natural. Mas isto não quer dizer que
nunca venhamos a saber isso. Mas enquanto não temos estas respostas, é
importante reunir evidências, criar hipóteses e assumir o paradigma naturalista
(ou seja, todos os fenômenos podem ser explicados sem precisar apelar para as
ações de uma força divina).
Infelizmente, entretanto, há uma
tendência entre os que querem desacreditar a ciência de preencher estas lacunas
de nosso conhecimento com explicações supernaturais e metafísicas. Por exemplo,
os criacionistas alegam com frequência que a seleção natural não pode explicar
adequadamente a diversidade, complexidade (irredutível ou não) e o aparente
projeto da vida na Terra. Da mesma forma, fenômenos neurológicos com as
experiências de quase-morte ou experiências alucinatórias como uma presença
remota geralmente são explicadas com o sobrenatural quando explicações mais
simples são mais prováveis e plausíveis.
O matemático Charles A. Coulson
escreveu em 1955:”Não há um ‘Deus das lacunas’ para assumir aqueles pontos
estratégicos onde a ciência falha, e a razão é por que as lacunas deste tipo
tem o hábito de encolher”, acrescentando que “ou Deus está em toda a Natureza,
sem lacunas, ou ele não está nela de forma alguma”.
Fonte hypescience.com
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