Essa postagem tem o intuito de conscientizar, desta forma podemos questionar e criticar sabendo o que estamos criticando.
Este texto é um artigo de revista
de filosofia Dicta & Contradicta,
onde o autor discorre sobre a ordem do universo e a existência de Deus. É raro
eu achar algum artigo assim em que eu concorde 100% com a ideia do autor.
Aproveitem a leitura. Fonte: Respostas ao ateísmo
A ordem do Universo prova a
existência de Deus?
por Joel Pinheiro
Muito comum o maravilhar-se com a
ordem do cosmos e ver, por detrás dela, uma inteligência divina. Afinal, para
que todas as coisas se encaixem tão bem, produzindo ordens desde o maior até o
menor plano que a inteligência humana alcança, deve haver algum ordenador
externo.
Contudo, considerem um exemplo
pequeno de ordem: jogamos água num copo cujo interior é completamente irregular
e, voilà, depois de alguns instantes a água adquiriu o exato formato, muito
complexo, do interior do copo. Onde está a inteligência para garantir que a
água adquira precisamente esse formato, e não outro?
Sabemos que pela leis da física,
ela tem que adquirir esse formato. Muito bem; mas então precisamos de uma
inteligência para garantir as leis da física! Não tão rápido! Aquilo a que
chamamos de leis da física são expressões abstratas de como os seres se
comportam. E eles se comportam de acordo com suas naturezas, isto é, de acordo
com o que são. Logo, a lei da física não é algo exterior, imposto aos corpos,
mas algo que decorre, que emerge, de suas naturezas. Podemos discutir isso aqui
também, mas me parece uma opção bem mais parcimoniosa do que dizer que existem
dois tipos de coisa independentes: corpos e as leis, entidades imateriais, que
determinam seus movimentos, de forma que seria teoricamente possível manter os
corpos idênticos mas operando sob leis completamente diferentes.
Portanto, é da natureza da água
que ela se comporte de forma a adquirir o formato de seu recipiente. E dado que
tudo é aquilo que é, então seria impossível que a água não manifestasse essa
ordem. Tendo a água as propriedades que tem, é impossível que ela não adquira o
formato do copo.
Isso vale para todos os seres.
Tudo é aquilo que é. Portanto, não importa como fosse o universo, não importa
que seres existissem, todos se comportariam de uma dada maneira e o conjunto
teria uma ordem. “Quem garante que, dando um passo para frente, não chovam
donuts de chocolate vindos do nada e que o sistema elétrico que usávamos até
ontem simplesmente pare de funcionar embora nada tenha quebrado? O universo
poderia ser completamente caótico.” Isso é ilusão verbal. Dado que a realidade
é como é (ou seja, que o universo seja composto de tais e tais seres), tais
eventos são impossíveis, pois envolvem contradições. Envolvem que, digamos, os
elétrons deixem de ser elétrons, que uma natureza seja e não seja ela mesma.
Você me dirá “Ok, mas como e por
quê esses seres existem? É preciso um Criador”. E daí concordo plenamente. O
que discordo é que, para além da existência, seja necessária uma inteligência
para garantir a ordem, pois, conforme meu argumento, dada a existência do que
quer que seja, a ordem se segue necessariamente.
Há, contudo, um motivo pelo qual
acho que a ordem do cosmos aponta (embora não prove) a existência de Deus. O
motivo é um argumento que sempre me pareceu meio fraco, mas que hoje
reconsidero. Sim, o universo necessariamente tem ordem. Mas isso não nos diz
qual ordem, ou melhor, qual o nível de ordem, ele de fato tem. A sopa entrópica
final à qual nosso universo se dirige terá uma ordem, mas comparada com a
realidade de hoje em dia mais se assemelha ao puro caos. A ordem de nosso
universo não precisava ser tal como ela é, e incluir coisas como a vida, muito
menos a vida humana (negar isso é afirmar que a matéria produz a vida humana
necessariamente – o que já é, na minha opinião, uma teologia). Aliás, chama a
atenção a improbabilidade da vida humana, que é algo substancialmente superior
a tudo o mais que existe no universo (não quer conceder a superioridade? Tudo
bem, conceda pelo menos a peculiaridade: de todos os seres do universo, o único
que pensa sobre os demais é o homem).
E há algo que fere nosso senso de
justiça (no sentido menos usual do justo como aquilo que “encaixa
perfeitamente”, que faz sentido e está no lugar certo) mais profundo em se
dizer que um universo tal como o nosso, que permite nossa existência, seja um
fruto do acaso sem finalidade. Apesar da imensa improbabilidade de estarmos
aqui, aqui estamos. Claro que esse senso não prova nada, e por isso o argumento
não demonstra a existência de Deus. Mas, se concedermos que nossa mente e
nossos modos de pensar não são completamente alheios à realidade das coisas,
ele ao menos a indica.
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