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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O Fim das Religiões ... mas não do religioso.



Há uma diferença marcante entre ambos.

Acabei de ler um livro tão interessante quanto complexo, Depois da Religião (Ed. Difel, 2008), dos filósofos franceses Luc Ferry e Marcel Gauchet. É uma leitura bastante difícil e que requer muita atenção.

Dentre as muitas ideias ali apresentadas, gostei particularmente da “Divinização do Humano”, proposta por Gauchet, que sugere que a religiosidade moderna tem tomado um caminho horizontal (do homem para o homem) e não mais vertical (do homem para o Deus).

Mas o que é o sagrado, na atual sociedade? Está destinado a desaparecer ou irá se reinventar, mudando de símbolos? A natureza hoje em dia é extremamente sacralizada, não só pela noção de que a estamos destruindo, como da ideia do quanto ela, em toda sua grandiosidade e diversidade, pode mesmo ser considerada “divina”. Creio que seja esse tipo de crença que Charles Darwin possuía – e eu também. Mas no sentido de fascínio pelo que ela é, não de temor, veneração ou subserviência a ela. Será que não basta pensar em quanto o mundo natural é maravilhoso sem ter que meter nele um monte de seres mágicos? Não se pode olhar a natureza e ver que sua beleza é intrínseca, sem achar que foi alguém que a criou? Só porque o ser humano tem a capacidade de criar não significa que tudo o mais também tenha forçosamente que ter sido criado. A beleza do mundo natural está, exatamente, no fato de não ter sido projetada por ninguém, e é precisamente isto que a faz ainda mais bela e fantástica.

Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele? (Douglas Adams)

Mas apesar de tudo isso uma coisa ainda é certa: o sentido religioso não mudou e nem nunca vai mudar: sempre será o ato de adorar/acreditar/venerar alguma coisa. O que está mudando atualmente é o ALVO: não é mais algo que acredita-se existir – Deus; agora é algo que DE FATO existe – o próprio homem. Mais: não se faz mais o correto, o bom ou o justo por temor a algum ser sobrenatural que esteja nos olhando e virá a nos julgar por isso, mas sim porque fazer o correto, o bom e o justo... é correto, bom e justo!
E, mesmo para aqueles que ainda seguem o inexistente, o conteúdo de suas doutrinas já não lhes são mais tão claros, tão sedutores, tão envolventes – e é exatamente por isto que estão migrando para dentro de si, e não mais para dentro de um templo, seja ele uma igreja, uma sinagoga, uma mesquita, um terreiro...

Uma espiritualidade laica não só é possível como é inevitável, e vemos esse fenômeno crescer dia após dia. Afinal de contas, num mundo informado como o de hoje, ninguém mais aceita esteesteesteeste ou este tipo atitude.
Ademais, a grosso modo, religião nada mais é que uma forma de política, como um partido ou uma ideologia. Então, trocá-la por outro partido não é nada tão de saltar os olhos assim.

E por que isto acontece? Porque as religiões tradicionais, e mesmo as mais modernosasnão trazem mais as respostas que as pessoas querem ou mesmo precisam. Com efeito, a filosofia e a ciência têm conseguido cada vez mais fornecer explicações (leia-se soluções) longe do campo religioso e mais dentro do campo prático, verdadeiro, coerente. Esta é uma das (muitas) falhas às quais a religião não consegue se desprender, simplesmente porque não há nada de prático, verdadeiro ou coerente em seus livros e/ou rituais. Seus valores NÃO SÃO seus, nem de fato nem de direito, mas todos emprestados da vida real e arregimentados em seus conjuntos de ensinamentos de forma deturpada e – SEMPRE – favoráveis à própria instituição como objetivo último, e não às pessoas.

Ainda nessa linha de raciocínio, o temor histórico que a religião sempre incutiu na mente das pessoas já não assusta mais. O inferno já não parece mais tão horroroso – quem ainda teme ir para lá hoje em dia? – e a concepção tradicional do paraíso soa hoje como absolutamente entediante: pular de nuvem em nuvem tocando uma harpinha deve ser simplesmente um porre!


Céu ou inferno...? Desse jeito fica difícil escolher.

Especialmente na Europa Ocidental homem e Deus nunca estiveram tão separados como hoje, e não quero insinuar que seus maravilhosos índices sócio-econômicos são por conta disso – embora devam ser mesmo. Em diversos países do mundo, é verdade, mas especialmente lá é a própria sociedade que está começando a ocupar o papel administrador e legislativo de suas nações. Como já disse no penúltimo parágrafo, os valores ditos “cristãos” não são exatamente cristãos, são humanos, como vários outros de outras correntes religiosas. No fim, a humanidade está relaicizando (não sei se gramaticalmente isso existe) seus valores fundamentais, tomados pela Igreja como se fossem seus. Não se trata de uma nova safra de valores,  de forma alguma, apenas uma retomada daqueles que já existiam, mas que estavam falsamente sob domínio da religião, obscurecidos por seu pesado e pernicioso manto.

Percebendo isso, as religiões precisam motivar seus fiéis a: 1) se manterem na crença e 2) trazer novas ovelhinhas para o rebanho. Assim sendo, é compreensível que os religiosos queiram trazer um Einstein ou um Darwin para seu lado do campo, afinal reforços de peso assim são sempre desejáveis ao time. Mas é triste que atribuam palavras à pessoas que já não podem mais se defender. Da mesma forma, eles adoooooram colocar um Hitler do outro lado, por exemplo. Mas a verdade é que Einstein e Darwin NÃO eram religiosos, mas Hitler era. Todas aquelas historinhas que pululam na internet de que Darwin se arrependeu no leito de morte ou que Einstein convenceu-se da existência divina são MENTIRAS, não caia nelas.

É certo que o desaparecimento das religiões constituídas é questão de tempo, e isto já está para ocorrer em muitos países notadamente inteligentes e ricos. (há um link a esse respeito ao fim da postagem). SIM, estou querendo dizer que os melhores países do mundo são os menos religiosos, já lhes mostrei como religião e ignorância são sinônimos quase perfeitos. Por outro lado, a humanidade (ao menos a Europa) já vivenciou um período similar de descrença durante o Renascimento e, contudo, voltou a se crentalizar (também não sei se isso existe).

Talvez o fenômeno religioso seja cíclico. Espero que não seja. Que dessa vez ele suma de uma vez por todas.

Deus criou o homem à sua imagem e este lhe pagou na mesma moeda (Voltaire)

Deuses, todos eles, são criações humanas. Nada mais que isso. E só sobrevive em mentes desprovidas de inteligência, razão pela qual a religião poderá ser extinta em países ricos.


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